segunda-feira, setembro 23, 2013

Mulheres que correm com os lobos



Recentemente eu descobri o livro Mulheres que correm com os lobos e ele se tornou quase que imediatamente o meu livro de cabeceira. Eu me percebi descrita naquelas histórias parada e brigando com o desejo de caminhar. Vi as palavras apodrecer na minha boca, sem coragem para dizer, para escrever. Escrava do monstro alienígena chamado Sabotagem que vive dentro de mim e me impede de agir da forma certa.

Sufocando o riso, para que o som gutural da minha gargalhada não pudesse chocar as pessoas com a verdade da graça. Vivi muitos anos sem saber que a origem da graça está na desgraça. Então, era por isso que a minha risada sempre chocou tanto.

No livro várias histórias diferentes mostram como essas mulheres enfrentam o lobo e sede aos instintos certos, a mulher volta para a essência. Não era mais escrava do medo, controlada pelas obrigações. O caminho não é domesticar o lobo e sim se tornar o lobo. Encarar o patético, assumir a raiva, abraçar o desejo e enfrentar o medo. A força para prosseguir está no que sobra do confronto com a dor.

Durante muitos anos eu me perguntei: Onde está a força para que eu possa finalmente caminhar? Esse livro me fez recordar o caminho de casa e me fez lembrar que a minha casa é muito mais que as paredes do meu apartamento. A minha casa são as minhas lembranças, a minha casa são meus sentimentos e a resposta está no inconfundível cheiro da dama da noite, a flor que exala seu perfume somente em momentos especiais.

A verdade está na imagem da minha avó, a sua velhice assumida deixando rastro na minha infância. O seu cuidado com as plantas como um ritual sagrado. Os pontos caprichosos do seu crochê ainda sobre as camas, mesmo depois de muito da sua morte. 

As colchas de retalhos que mostram não só a junção de retalhos a esmo, mas a lembrança de outras peças de roupas que não usamos mais, quanto mais velha fica a colcha, mais ela me cobre da mágica da transformação. A imagem da minha mãe não me deixando esquecer a sua mãe, não me deixando esquecer a dor e o que sobra dela, que é a felicidade.

A imagem do meu filho recém nascido, o seu sono intenso, a sua respiração profunda e instintiva, respirando com o corpo todo, sua necessidade de vida me cutucando para que eu saísse do torpor.

A resposta esta nas minhas próprias descobertas sobre mim, não aquilo que eu imaginava que fosse, aquilo que eu sou. Lembrei de uma época em que os meus lábios estavam sempre corados de vermelho, época em que minha selvageria tinha nome e sobrenome, noites e noites em que a poesia me acordava para conversar comigo, recordei feridas antigas, e um desejo de vida mais antigo e mais profundo que a própria dor.

Tive tanta saudade de pessoas queridas, pessoas que estão distantes por um toque de telefone e ausentes por conta das obrigações. Tive saudade dos abraços demorados, aqueles que damos para sentir a vida que está presente na respiração do outro. Foi assim que esse livro me fez resgatar lembranças.



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