Recordo de uma ocasião no trabalho em que uma colega se indignava com a
quantidade de responsabilidade nas suas costas. Essa amiga se revoltou pois a
maioria do grupo não contabilizou que ela pudesse errar. Todos contavam que ela
conseguisse cumprir o serviço, mesmo com condições ruins como falta de tempo e
excesso de serviço. As pessoas acreditavam tanto no seu potencial e no seu trabalho que lhe entregaram uma missão praticamente impossível sem nenhuma dúvida que ela iria alcançar o objetivo.
Ela sentia nas costas o peso de ser boa. Ela sempre havia conseguido antes,
mesmo com dificuldades e problemas, sempre havia feito um grande esforço
para conseguir alcançar o sucesso.
Varava madrugadas a fora preenchendo relatórios, chegava mais cedo,
deixava de almoçar. O sucesso dela não era fácil ou natural, mas sim fruto de
muita dedicação e trabalho.
O peso invisível dessa dedicação começava a afetá-la. Ninguém
acreditava que era complicado para ela. Poucos enxergavam o que ela fazia
para desempenhar o seu trabalho bem. Ela se dedicava mais que o normal, para ter um resultado maior
que o da média. Acreditavam que o seu
sucesso era simplesmente uma característica que tinha nascido com ela, mas não era. Nunca é.
O que mais a angustiava era o medo de decepcionar os outros. Ela carregava as esperanças dos outros e isso tinha pontos positivos, mas inúmeros pontos negativos também. Decididamente não sei o que é pior.
Se é o hábito que algumas pessoas têm de não acreditarem na sua capacidade ou o fato de acreditarem tanto em você que transferem toda a responsabilidade e trabalho pesado, sem o medo de que possa dar errado.
Eu realmente tenho compaixão pelas pessoas que ocupam cargos em que
teoricamente não podem errar. Sinto compaixão por aqueles que carregam a
esperança dos outros. Médicos, atores, personalidades e políticos. Pessoas que tem
que provar todos os dias não só sua competência, beleza e habilidade de
negociar , mas pessoas que carregam o fardo de acharem que não podem
decepcionar.
O escritor Fabricío Carpinejar disse que amar não era para os fracos e eu
digo que ser bom também não é.
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